Conheço um país que recebe dinheiro para nada fazer dos seus férteis campos. Quilómetros de paisagem que em tempos esteve cultivada, e que poderia alimentar todo o país, está ao abandono. Não há trabalho, não há dinheiro e famílias há que não têm que comer.
Conheço um país, com uma extensa costa marítima, que recebe dinheiro para não pescar. Vêm barcos de toda a Europa para pescar nas nossas águas, mas o português tem de estar quieto. Não há trabalho, não há dinheiro e famílias há que não têm que comer.
Conheço um país que recebe de braços abertos tudo quanto é imigrante. Não interessa se é louro de olhos azuis, ou negro como um tição. A todos recebe e a todos põe a trabalhar nas obras, com salários muitas vezes abaixo dos mínimos.
Conheço um país que obriga os seus trabalhadores a descontarem enormidades, que têm uma carga fiscal exagerada, e que mesmo assim aumenta os impostos a um ritmo semestral.
Conheço um país que, embora tenha a população envelhecida, corta nos abonos de família, retirando o pouco que as famílias ainda tinham.
Conheço um país que quer que os trabalhadores façam horas extra sem as receberem.
Conheço um país que abre os braços à corrupção, e cala as vozes honestas.
Conheço um país onde diariamente se fala de “pedagogia democrática”, sem que ninguém saiba o que é pedagogia ou onde anda a democracia.
Conheço um país que vota os seus ao abandono, onde um polícia vai preso porque disparou no cumprimento do dever, ou um professor é agredido por uma criança, ou pelo progenitor da criança, apenas porque expulsou o aluno da aula ou tentou impôr a ordem.
Conheço um país que permite que buracos sejam feitos na rua, exactamente no mesmo sítio, exactamente a um mês das eleições, ciclo eleitoral após ciclo eleitoral.
Conheço um país que permite que um casal que viva numa vivenda com dois andares, dois carros na garagem e um barco de recreio vá pedir comida à AMI apenas porque são amigos do presidente da Junta, que lhes passou um atestado de pobreza.
Conheço um país que permite que uma criança portuguesa, filha de pais portugueses, que pode traçar a sua geneologia até à batalha de Aljubarrota, fique sem assistência médica porque ao médico de família não apeteceu trabalhar e falta quatro dias em cada cinco.
Conheço um país que, quando recebe uma queixa de recusa de atendimento no posto médico da Caixa, arquiva a queixa porque a médica já tinha atendido os 15 doentes que tinha marcados para aquele dia e não era obrigada a atender mais.
Conheço um país que prefere que um adolescente passe os meses de Verão no marasmo, porque se o jovem quiser ir trabalhar, perde o pouco abono que recebe.
Conheço um país que tem uma história rica, mas um presente pobre e um futuro miserável.
Conheço um país que, após décadas de ditadura, entrou numa democracia periclitante com os cofres cheios; passados quase quarenta anos, tem os cofres vazios e com teias de aranha.
Este país é Portugal. Com uma classe política que se virou contra os portugueses, que vem de chapéu estendido em altura de eleições, mas que vira costas à população. Um país que permite a instalação de guetos cromáticos para melhor acentuar diferenças. Um país que já perdeu todo e qualquer direito a exigir coisas aos portugueses, mas que mesmo assim o continua a fazer apenas porque sim.
E numa altura em que ainda há quem se recorde do valor do escudo, cada vez mais o euro é posto em causa, e cada vez mais temos profissionais da política em vez de políticos.
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