terça-feira, 28 de junho de 2011

Areia, Água e uma Criança



No Domingo pela primeira vez o meu piolhito foi à praia. E foi mesmo pela primeira vez, em toda a sua vida.

Como em casa é um patinho autêntico na banheira, pensei que ia ter de estar com sete olhos nele e que ia a correr para a água mal a visse.

Esqueci-me é que é bem filho do seu paizinho, e água só quentinha.

Mal molhou os pés, achou a água fria e voltou para a areia molhada. E ali ficou, a brincar com a pá, o ancinho, o baldinho e toda a parafernália da praia.

Já a mãe aproveitou para ir a banhos. E quando estava repousada em cima da toalha, a gozar cinco minutos de descanso, o “croquete” – porque por esta altura ele já estava coberto de areia molhada – achou por bem despejar-me o balde cheio de areia em cima. E quando me levantei de repente, olhou para mim com ar cândido e disse:

- Olá, mãe!

E assim fica provado o segredo da sobrevivência dos bebés: fazem uma asneira, põem um ar angelical e cândido e já não é nada com eles, porque os pais se derretem todos.

Correcção: a mãe derrete-se toda. O pai estava a ter dificuldades em controlar o ataque de riso.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Treino Continua


O treino do bacio está-me a fazer cabelos brancos. Não só tenho de ter a esfregona sempre a postos como tenho um número de urgência em speed dial. Ou, por outras palavras, o pequerrucho grita por mim.

O mais giro não é quando não acerta a tempo e horas no bacio, ou quando faz mal se levanta. É quando efectivamente acerta e depois vem todo orgulhoso mostrar-me o bacio. Escusado será dizer que entorna.

Yep, mais um dia de treinos.

E agora, que ele aprendeu a atirar as culpas para cima do cão? "Mamã o cão é porco"...

Coitado do canito, que nem anda pelo mesmo lado da casa.

Enfim, resultados de hoje (até agora): bacio 0 - chão 3

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Se o IVA não aumentou, de onde vieram estes aumentos?!?!?!?!


Realmente, o IVA pode não ter aumentado no Pingo Doce, mas tudo o resto disparou à lua.

Se há coisa que eu detesto, são mentirosos. E quando são mentirosos apanhados na curva, então ainda pior. Sobretudo porque quando quero que me mintam, sintonizo o canal Parlamento e fico ali alegremente a ser estupidificada por fulanos engravatados que têm uma grande conversa, num português muito cuidado, mas depois nem sabem a quantas andam.

Mas realmente ao Pingo Doce (doravante PD para abreviar) ninguém pode chamar mentiroso - afinal, só disseram que o IVA não subia. Quem é que falou nos preços base?

Senão, vejamos:

* Em Dezembro do ano passado, 200 grs coco ralado custavam 0,39 € (e para o coco que eu gasto cá em casa, bem podia ir plantar coqueiros!!) - agora custam 0,80 €, sendo que os mesmos 0,40 € vão para 100 grs de produto!

* A semana passada uma embalagem de puré congelada marca PD custava 0,89 €; agora custa 1,29 €

* A semana passada uma embalagem de manteiga marca da casa custava 0,89 €; agora custa 0,99 €.

* Uma embalagem de frutos vermelhos congelados de 250 grs custava 1,99 € há umas semanas; hoje os mesmos 1,99 € só pagam 125 grs de produto.

Isto são apenas alguns exemplos que sei de cabeça, porque se me puser a comparar talões (sim, eu sei que sou sentimental, mas nem os talões do PD deito fora; é a minha personalidade encantadora, o que é que querem???)

Já para não falar no facto de ter fruta importada de Espanha, de França, do Chile, de Cascos-de-Rolha-Futebol-Clube, que não vale uma casca de alho, e a nossa, que é tão boa, apodrece nas árvores e é vendida a um preço largamente superior! Eu não quero melão de Espanha, quero melão de Portugal! Quero melancia de Portugal! Quero maçãs de Portugal! Quero laranjas de Portugual! Quero fruta portuguesa! Ou terei de ir a Espanha comprá-la?!

Mas afinal andamos a brincar com quem?! Se o IVA não aumenta, o que é que aumentou, para além da margem de lucro do Jerónimo Martins?!

Ò tio Jiji, já não tenho padrinho, estou disponível para adopção! A quem é que vai deixar esse dinheiro tão arduamente chulado ao povo português?!

Um Pequeno Passo Para o Bebé...


Hoje dormiste na tua caminha nova pela primeira vez. Já não dormes no teu berço de grades, o qual parece que ainda te chama.

Ou se calhar chama-me a mim, que queria que ficasses bebé mais algum tempo. As tuas feições de bebé desvaneceram-se e agora estás transformado num lindo rapazinho. Mas continuas a ser o bebé da mamã.

Fui ver-te a meio da noite, como faço sempre. Eram quatro e meia da manhã e tu dormias o sono dos justos, aninhado na cama. Uma figura tão pequenina perdida na imensidão de lençóis. A teu lado, o teu bebé de peluche que não largas, a chucha caída e esquecida num canto. Sempre foste assim, não adormeces sem ela, mas a seguir deita-la fora.

Estás a crescer, meu amor. Já dizes muita coisa, sabes o que queres e não tens problemas em afirmar-te, ora com um sorriso malandro, ora com ar teimoso de quem prefere mover uma montanha ao pontapé do que mudar de opinião.

A minha pipoquinha cresceu e está a transformar-se numa criança animada e cheia de vida.

O sol para mim nasce quando te levantas e brindas o mundo com o teu sorriso lindo. Nunca te levantas maldisposto, ao contrário da tua mãe, que nunca tem bom acordar. Tens sempre um sorriso e a tua primeira palavra nunca é “olá”. Regra geral, é “Fu”. Um dia destes inscrevo-te no Kung Fu para que possas treinar como o panda.

Amo-te muito, meu pequenino. Por muito crescido que sejas, ainda és e serás sempre o meu bebé.

Atão mas atão????



Ontem vi uma notícia no Telejornal (já não me lembro de que canal porque passo a vida a fazer zapping e para mim é tudo Telejornal), sobre as novas restrições para as prisões.

Familiares indignados queixavam-se que não podiam levar comida, ou que só podiam levar determinadas quantidades de comida, que as visitas conjugais – ou, melhor dizendo, os deveres conjugais – estavam restringidos a determinadas alturas, e que todas as prisões se regulavam agora por um Regulamento Único. E ouvi falar deste Regulamento Único como se fosse a vinda de um Messias há muito profetizado, pelo menos da boca do engravatado atrás de uma secretária que um jornalista qualquer entrevistou.

Até aqui tudo mais ou menos normal, não fossem as queixas dos reclusos cá para fora, que se queixam da comida das prisões, da diminuição das visitas conjugais, das famílias terem de adquirir o tabaco dentro da prisão – e por isto parto do pressuposto que haja uma tabacaria lá dentro – e que me levou a pensar numa importante questão: mas afinal eles estão na prisão ou num hotel?! Roubaram, mataram, violaram, espancaram, fizeram sabe-se lá o quê para lá estarem – e levando em consideração a nossa treta de sistema judicial, é capaz de ter sido grave – e reclamam por não terem tantas visitas conjugais nem tanta comida trazida de casa como antigamente?!

Conheço casais que têm menos “visitas conjugais” que alguns reclusos, e ninguém os houve queixarem-se – ou por outra, não vêm para a televisão dizê-lo. E no entanto dormem na mesma cama, partilham uma vida em comum. Só não partilham mesmo os “deveres conjugais”.

É estranho como as coisas são.

Claro que se disserem que tomam banho de água fria, isso já é outra coisa, até porque preserva a pele mas provoca pele-de-galinha. Têm direito à água quente como toda a gente, completamente certo, não sejamos desumanos – e não, não estou a ser irónica, estou a falar a sério. E claro que têm direito a queixarem-se, mas por amor da santa! Da forma como falaram ontem na tv, fiquei na dúvida se estávamos a falar do sistema prisional ou de algum hotel de cinco estrelas!

E outra coisa que ninguém focou foi se a prisão dos advogados, políticos, etc..., onde esteve o Vale Azevedo e outros trapaceiros como ele, que roubaram muito mais do que os pobres desgraçados das outras prisões, se queixam da comida, da diminuição das visitais conjugais ou da água fria ou se andam caladinhos que nem uns ratinhos porque a comida é de hotel, providenciada por um serviço de catering, a água vai quentinha e ainda têm court de ténis para não se aborrecerem. Claro que se me disserem que esses mesmos “ricopresos” têm a mesma gosma para comer que servem nas prisões normais, eu fico desconfiada. Afinal, se roubar um pão é ladrão; se roubar um milhão, é barão. Então e aqueles que roubam aos milhões os pães de tanta e tanta gente?!

Atão mas atão?!

terça-feira, 14 de junho de 2011

Love Changes Everything



Sem querer reportar-me ao óbvio, o amor mudou imenso a minha vida. Não só passei a partilhar a cama, como a pilha de roupa para lavar e passar aumentou exponencialmente. E já nem falo no calçado espalhado pela casa.

Mudou porque passei a ter a meu lado um ombro amigo, que me leva ao desespero com os seus disparates bem-dispostos, mas que me apoia, me ouve, me compreende.

Como raio é que vieste parar à minha vida? Não diria que caíste do céu, mas andaste lá perto.

Espera, já sei. Mudei de restaurante onde ia almoçar todos dias. E eu que só queria variar o que comia ao almoço. Variei a vida toda, lol.

E agora temos um piolhito que te adora e que acha que és o herói dele. Hoje saíste de manhã em direcção ao autocarro, e o nosso menino ficou a chamar por ti. Deu-me pena ver o seu rostinho franzido a chamar:

- Pai! Anda cá ao J'ão!

Sabes aquela forma que ele tem de contrair o nome dele? Hoje contraiu ainda mais, à medida que tu te afastavas e não olhavas sequer para trás e ele franzia mais e mais a testa.

Ficou triste. Fartou-se de perguntar por ti. E por mais que lhe dissesse “O papá foi ganhar tostão pa comprar papinha para a rabiguinha do João”, ele não sossegava. Olhava para a curva por onde tinhas desaparecido, à espera de te ver aparecer.

Quem apareceu foi o autocarro, atrasada como sempre, e tu ficaste para trás. O nosso menino já quer ir sentado no seu lugar, sem ser ao colo, quer carregar no botão para parar e quer ir a espreitar pela janela. E diz sempre: “O cão não vem, mãe”. Pobre cão, que ficou em casa a chorar porque ficou sozinho, porque sente saudades dos donos e porque acha injusto não poder vir com a dona, ele que até se porta bem e aninha-se a meus pés.

Depois saímos na paragem ao pé da creche. Foi o caminho todo a amuar, a dizer “nã quelo” cada vez que dizia que ia ver os seus amiguinhos. Mas foi. E mal chegámos à entrada da creche, deu dois pulos para o ginásio, encontrou um triciclo vazio e largou-me a mão, dizendo sem olhar para trás:

- Xau, mãe!

Não fosse alguém roubar-lhe o triciclo. Nem me passou mais cartão.

Antigamente, passava noites sem dormir a tentar decifrar o Livro Egípcio dos Mortos. Agora, passo noites sem dormir por causa do nosso menino, que está a evoluir de bebé para rapazinho. E não perdia isto por nada deste mundo.

sábado, 11 de junho de 2011

Era uma Vez



Sou uma portuguesa típica. Saudade devia ser o meu nome do meio.

Hoje passei no youtube para entreter o meu pequerrucho com algumas musiquinhas. "A loja do Mestre André", "O Balão do João", etc...

Dali a passar para a "Ana dos Cabelos Ruivos", "Era uma Vez a Vida", "L'Aventures de Les Cités D'Or", "O Panda Tao Tao", "D'Artagnan", etc, foi um pulinho.

Isto é que eram desenhos animados. Ensinava. Ainda hoje são actuais. Não eram violentos, ou traziam a violência disfarçada, e todos os miúdos compreendiam.

Era a única maneira da minha avó ter sossego lá em casa, era das cinco às seis da tarde, em que reunia a criançada toda na sala para vermos televisão. A hora do "Brinca Brincando" era sagrada - até para ela, que se sentava connosco a ver. A hora do almoço e do "Não se Brinca com a Comida" ia longe, e havia expectativa no ar. Sabíamos o que íamos ver, e estávamos desertinhos de ver os novos episódios. Pela primeira vez no dia não havia castigos, nem bulhas, nem puxões de cabelos nem esses mimos com que as crianças se mimoseiam umas às outras - o banco dos castigos tinha o meu nome escrito lol, às vezes ainda não tinha acabado de me levantar e já lá estava outra vez.

Ainda hoje associo os glóbulos brancos do corpo aos polícias do desenho animado.

Aprendíamos enquanto víamos bonecos animados. E hoje? Murros, pontapés, sangue, violência... até tremo pelo meu filho.

Por isso, continuo a pôr estes desenhos para ele ver no computador o que a mãe via na televisão quando tinha a idade dele.

Era bastante mais saudável e educativo.

We Are the World


Esta é outra música que me toca no fundo da alma.

Mas, como tudo, deixa-me cá com umas quantas questões.

Os problemas em África foram grandemente causados pelos outros. Europeus, Americanos, Russos... Quem está isento de culpas? E isso interessa, ao fim deste tempo todo? Portanto, termos "USA for Africa" é um engano... ou um descargo de consciência.

Esta letra é linda. Quem a escreveu foi Michael Jackson. Descobri-o recentemente. Era suposto o Prince ter ido ter com ele para escreverem a letra juntos, mas nunca apareceu e Michael não quis faltar ao que tinha prometido e esteve até às quatro da manhã a terminar a letra, para estar às oito no estúdio.

De Michael Jackson sabe-se muita coisa, tudo quanto vinha escrito nos jornais era história. Mas a verdade é que se o homem tivesse tempo para fazer tudo aquilo de que o acusam, o dia para ele tinha 48 horas.

A música é linda. Fantástica, direi mesmo.

E embora sejamos realmente o mundo, cada vez menos se vê dar e cada vez mais se vê cobrar.

O mundo da música nunca mais foi o mesmo sem ti, Michael.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Treino do Bacio


Poucas coisas me assustam tanto como a empresa hercúlea que me espera com o meu filhote: o terrível, temido e nada ansiado treino do bacio.

Não sei se já mencionei aqui que o meu piolhito é extremamente teimoso, o que não ajuda em nada ao treino do bacio.

Hoje deixei-o andar sem fraldas um bocado e mostrei-lhe o bacio, sentei-o lá, estivemos à conversa com ele, eu e o pai, e ele andou a brincar enquanto lá estava sentado.

Nisto levantou-se e foi fazer xixi à carpete.

Portanto, neste momento estamos: bacio 0 - carpete 1.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Song For Nadim



Ainda hoje esta música me traz lágrimas aos olhos. Ainda me lembro de ver o menino, na TV, a andar numa cidade semi destruída pela guerra, e a sua voz em fundo a pedir para o pai vir para casa.

A tristeza cobre-me o coração e a alma por saber que há tantas crianças por esse mundo fora a quem a guerra tirou os pais. É verdade que pai nenhum devia ter de enterrar os seus filhos, mas também não é menos verdade que não devia ser uma criança a fazê-lo.

Gostava de saber o que foi feito do pequeno Nadim que de maneira tão ternurenta pede ao pai para vir para casa.

O meu filho adora estar com o pai, brincar com o pai, desafiar o pai. O pai é o seu herói. Não me imagino a criar o meu filho sozinha, sem esta importante figura a meu lado.

Amo o meu marido e o meu filho, mas sei que o amor que eles têm entre os dois ultrapassa tudo.

Cinquenta vezes ouço a voz pequenina do meu bebé perguntar: “O piupiu?” E cinquenta vezes ouço o meu marido responder: “Está ali, olha ali o piupiu”. Primeiro divertido, depois exasperado, e por fim resignado. E tantas vezes quantas ele perguntar, tantas ele responde.

Obrigado, meu amor, por fazeres parte da minha vida, por me teres dado um filho tão lindo e por seres quem és.

Amo-te e amo o nosso cachopo mimado.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Tou cá com umas ganas...



Tenho feito esta pergunta a mim mesma muitas vezes. O que faria Sojourner Truth no meu lugar?

Para os mais distraídos, Sojourner Truth foi uma mulher que se bateu pelos direitos à liberdade dos escravos. Uma mulher como há poucas, quer na altura, quer hoje. Aliás, ao ler a biografia dela, apercebo-me que é uma mulher como há poucos homens, e então que eu conheça... enfim é melhor não seguirmos por aqui.

Graças à lei do Trabalho, que pelos vistos tem mais buracos que uma peneira, uma entidade patronal pode ficar com metade do subsídio de férias do trabalhador apenas porque sim, e dá-lo apenas no final do mês de Dezembro.

Eu sei que não sou particularmente uma pessoa iluminada em muitos aspectos, mas pelo menos isto eu sei: se a pessoa vai de férias em Julho, não deveria receber o subsídio em Julho? Tem de ficar à espera de Dezembro (final do mês de Dezembro, note-se, quando o Natal também já passou e se traduz numa azia pós-festa)? Sublinhe-se o facto de estarmos à espera do subsídio de férias, não de natal, nem de quando Deus quiser.

É isto que me querem fazer este ano. E como de cada vez que me sinto a ser lixada, contorço-me e procuro formas de provar que não só isto é etica e moralmente reprovável, como é fodido. Não sou a única a estar à espera do subsídio de férias para comprar coisas para mim que de outra forma não consigo. Não estou à espera do subsídio para alugar uma casa algures num condomínio fechado com vista para o mar. Preciso do subsídio para ir graduar a vista e comprar umas coisas para a casa. E preciso agora, não é em Dezembro. A continuar conforme estou, em Dezembro já estou pitosga de todo.

Mas o que me lixa mais nesta abençoada ideia não é o facto de me estarem a querer lixar metade do que é meu por direito; é não terem tomates para mo fazerem cara a cara. É fazerem pelas costas e dizerem, “é uma decisão da maioria”. Maioria de quê, especificamente? Quem é que decidiu quando é que eu devo receber o que é meu por direito? E já agora, quem foi o corajoso cobarde que não foi homem o suficiente para assumir as consequências dos seus actos, para enfrentar a classe de trabalhadores que lixou, remetendo-se para um sms através de uma das suas assistentes?

SMS! Fiquei a saber que ia ser lixada por SMS! E viva o séc. XXI! Tiram-me um direito adquirido e nem têm a decência de dar a cara.


E o ridículo é que só fomos avisados porque perguntámos primeiro: “Afinal como é que é?” Porque senão chegávamos à altura e ficávamos a olhar para as mãos.

Estão a ver a fúria que fervilha em lume brando, mas a dada altura atinge o ponto de ebulição? Já esteve mais longe para me saltar a tampa. Muito mais longe.

Psicologia Inversa



A seguir à Psicologia Aplicada, a Psicologia Inversa foi outra coisa que me deu água pela barba.

Como fazer desenhos com a comida é algo que me faz confusão ("Não se brinca com a comida!"), tentei a Psicologia Inversa.

Por diversas vezes reparei que com o meu filho era a única coisa que parecia resultar. Eu digo-lhe “não faças!”, ele faz. Digo-lhe “faz!”, ele olha para mim com ar malandro e diz: “Não!”

É do contra, portanto (pergunto-me a quem sairá ele...).

Como é complicado dar-lhe carne que não esteja picada, tentei ir pelo inverso. Servi-lhe um prato com bife cortado aos bocadinhos liliputianos, arroz e batatas, tudo escrupulosamente separado (só me faltou ir buscar a fita métrica para medir os espaços entre os alimentos, mas depois achei que era levar a obsessão muito longe). Quando ele atacou o acompanhamento e afastou o bife para o lado, ainda tentei a via do normal:

- Filhote, papa a xixinha, é tão boa...

- Não! –respondeu logo ele, o sorriso malandro a aparecer. Safadinho!

Olhei para o meu marido, mas ele fingiu que não via. Voltei para o miúdo e continuei:

- Também acho, filho! Não comas, não presta! Xixa má.

Ele olhou para mim e as covinhas que aparecem sempre que ele sorri fizeram uma aparição bastante acentuada no seu rostinho infantil:

- Xixa má! Nã quelo!

E agarra na “xixa má” e dá descaradamente ao cão, que escancarou aquela cloaca para garantir que não caía nada no chão!

- Não dá ao cão, filho! –repreendo. Ele olha para mim e repete:

- Xixa má! Nã quelo!

Tento emendar a minha gaffe monumental:

- Filho, aquela xixa era má, mas esta é boa, olha, vês? A mamã e o papá papam a xixa!

- Xixa não!

E não comeu a carne! Para já não dizer que no fim daquilo tudo também já não me apetecia o bife.

Quando à Psicologia Invertida, estamos conversados.

Não se Brinca Com a Comida



Parece que foi ontem que a minha avó me dizia: “Não se brinca com a comida!” Parece que a estou a ver, de mão na cintura, ar severo, postura zangada. E tudo porque eu estava a passear o peixe cozido de um lado para o outro no prato, sem vontade nenhuma de o levar à boca.

Hoje, quando dou conta, pareço a minha avó. Digo ao meu filho, com ar severo e dedo espetado no ar: “Não se brinca com a comida!” O estranho é que agora não é ao peixe cozido que não quero que se brinque. Eu detestava peixe cozido, o meu filho gosta imenso (sobretudo com molho de manteiga, alho e limão) – são daquelas coisas que eu não entendo! Do que ele não gosta, ou pelo menos aprecia menos, é da carne (não fosse cá por coisas diria que o rapaz tinha sido trocado na maternidade à nascença lol). Afasta a “xixa” para o lado com a ponta do garfo e atira-se ao acompanhamento (seja arroz, batata, massa, feijão, come tudo. A carne é que fica para mim).

Comentei esse facto com a pediatra, que me disse: “Faça brincadeiras com a comida!” Ò xô doutora, então e quem é que tira a imagem da minha avó da minha cabeça?? (“Não se brinca com a comida!”) Como é que eu posso fazer uma coisa dessas, enfeitar artisticamente o prato (“Não se brinca com a comida!”), fazer desenhos com a carne (“Não se brinca com a comida!”), quando tenho tão vívida a imagem da minha avó, de mão na anca e dedo espetado no ar?? (“Não se brinca com a comida!”)

Mas, abençoada seja a percepcão da senhora, ela percebeu. De alguma forma percebeu que eu tinha o “Não se brinca com a comida!” bem vívido na minha mente. Sorriu e disse:

- É rigorosamente o oposto do que lhe disseram quando era pequena, não é?

Tive de me rir. Ela tinha razão.

Mas parece que agora está na moda ensinar as crianças a comer verduras desenhando girassóis com os legumes e fingindo que o ovo estrelado é um sol.

A ver se nos entendemos: nunca conheci criança nenhuma que tivesse problemas em comer ovo estrelado, e além disso beterraba em forma de girassol continua a não ter paladar agradável. O problema, minha senhora, está no sabor, não na forma. Se a beterraba soubesse a snickers era ver os miúdos a fazerem fila. E os pais também.

Além de que o método da minha avó podia ser politicamente incorrecto, mas resultava (mão na anca, dedo espetado no ar e colher de pau pousada ao lado da criancinha embirrenta que não queria comer) e o facto é que todas as crianças que lhe passaram pelas mãos – e foram muitos pois ela foi ama durante muitos anos – gostam de vegetais. Podem não achar grande piada ao arroz de grelos, mas comem as saladas e os legumes cozidos – o peixe já é discutível, mas a mulher não era nenhuma milagreira. E hoje são eles próprios pais e ainda perguntam à minha avó: “Tem aí aquela colher de pau...?” O mais engraçado é que nunca vi aquela colher de pau em acção com ninguém. Saía da gaveta e voltava para lá sem nunca ter tido outro uso que não fosse o assustar.

Já este método moderno traduz-se em desenhos no prato e nas paredes, porque as crianças acham piada ao girassol e ao sol e levam lá os dedos. Quando dizem “ooops” é certo e sabido que tentaram limpar os dedos na parede ou no forro da cadeira. O método da minha avó podia ser pouco ortodoxo, mas resultava.

Perdoem-me os pedopsiquiatras, os pediatras e todos os outros cuja profissão termina em “atra” ou semelhante: mas ainda sou apologista daquilo a que chamo o método da avozinha. Tem resultados comprovadamente eficazes. Aliás, estou a pensar sugerir à minha avó que emoldure a colher de pau e ma empreste. Tenho lá em casa um miúdo que adora peixe cozido mas detesta “xixa”.

Psicologia Aplicada



Dúvida – o que é Psicologia Aplicada?

Tive um professor uma vez na faculdade que me respondeu a isto. Deu um murro na mesa e perguntou:

- O que é um par de estalos?

Silêncio. Até conseguíamos ouvir o zumbir dos computadores na sala do lado. E ele dá outro murro na mesa e responde:

- Psicologia Aplicada, seus burros! Aplicada ao momento e à hora!

Antes que se lancem em importantes questões de carácter deontológico, psicológico e outros que tais acabados em “lógico” e não só, permitam-me que esclareça a dúvida.

Quando eu era miúda, ainda estava a pensar em fazer a birra já a minha mãe me estava a avisar: “nem penses nisso!” E para o caso de eu, além de pensar, me atrever a fazer, ela não tinha problemas nenhuns em dar-me uma palmada que tinha dois efeitos: espantava as moscas e dava-me uma razão real para chorar.

Hoje os iluminados aconselham a que se fale com a criança. Concordo plenamente, temos de falar com os nossos filhos para os conhecermos. Mas isso isenta-nos de responsabilidades na fita? Claro que não! Eu também não gosto de ir no autocarro, confortavelmente sentada a ler o meu livrinho – e quem me conhece sabe que tenho sempre um debaixo do braço – e ter atrás de mim (ou à frente ou ao lado) uma criancinha a berrar que nem uma perdida, nem ela sabe bem porquê. E a mãe, ou o pai ou ambos, a dizerem com ar muito contristado: “Ò amorzinho, mas estás a chorar porquê?”

Ò meus amigos! Então não sabem?! Eu é que não sei mesmo! E como já de mim sou atreita a dores de cabeça, passava bem sem a berraria homérica com que o anjinho do lado me está a brindar. Começar o dia logo com as têmporas a latejar é prenúncio para chegar a meio do dia sem conseguir abrir os olhos.

E se o vosso problema é não saberem porque é que a criancinha chora, dêem-lhe uma palmada que ela aí já começa a berrar com razão. E pelo menos sabe que a) os seus actos têm consequências e b) já tem bom motivo para chorar.

E antes que me caiam em cima os génios da educação moderna (?), permitam-me que esclareça: não me refiro a um espancamento! Refiro-me sim a um espanta moscas cujo único objectivo é mostrar exactamente à criança o que é bom comportamento, quais as consequências para determinados tipos de comportamento, e que não lhe adianta ir para ali naquela choraminguice porque senão começa a chorar a sério e não ganha nada com isso.

Dou comigo a dar razão ao meu professor. Aplicada ao momento e à hora. Voltamos à história do antigamente. Não era a palmada que nos doía quando éramos miúdos; era a vergonha de irmos na rua e sermos humilhados daquela maneira. Éramos pequeninos mas conscientes de nós e do que nos rodeava.

O mesmo se passa com os miúdos de hoje, e eu vejo pelo meu filho. Gosta de fazer gracinhas mas fica encarnadíssimo quando percebe que estão a ralhar com ele. Baixa a cabeça e faz beicinho, mas não se atreve a chorar. Fica envergonhadíssimo quando alguém lhe diz:

- Um menino tão bonito a fazer caretas tão feias!

E só tem dois anos.

Por isso, professor, dou-lhe mais razão hoje do que lhe dei naquele dia na aula: Psicologia Aplicada ao momento e à hora. Nem mais.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Não Ver, Não Falar, Não Ouvir



Não olham para não ter de ver; falam bastante, mas pelas costas - nunca pela frente, atitude que condeno veementemente; e preferem não saber, para não terem de saber.

Isto para mim é o pior: tanta lábia pelas costas, tão pouco siso pela frente.

E ainda me condenaram quando assumi ser eu mesma:

- Boa noite.

- Até há cinco minutos atrás, estava a ser, estava.

E depois o melhor de tudo: o meu pequerrucho de quatro patas, sempre tão meigo, tão doce, tão meloso, que nunca mostrou uma ponta de maldade, nem sequer a ponta dos caninos, que sempre lambeu a mão que o castigava, virou-se.

Dentes arreganhados, começou por rosnar e depois atirou-se. Se o tem apanhado, tinha-o mordido. Agarraram-no a tempo. Caiu-me o queixo, porque nunca pensei que ele fosse capaz... disto.

Estavas em sintonia com os meus sentimentos, R.? De alguma forma, do fundo do teu coração tão bondoso, percebeste o que eu sentia relativamente àquele desperdício de oxigénio?

Cãozinho esperto. E sempre fiel à sua dona. Mas, meu querido, deixa isto para mim. Lembra-te do que te disse: só mordes carne de qualidade. Sabe-se lá as doenças que podias apanhar se mordesses aquela... coisa.

Porque é que as pessoas dizem alhos e bugalhos pelas costas e pela frente calam-se e afivelam sorrisos de orelha a orelha? Não entendo. Não tenho esta capacidade. Não gosto, paciência. Não gosto mesmo, não sou capaz de disfarçar. Sou eu que estou mal? Se calhar sou, mas o facto é que não sou capaz disso.

Até podia pedir desculpa por isso... mas isso faria com que ficasse igual a vós.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Simbiose



O que é melhor, ser-se mãe ou ser-se amiga? E poderemos ser um sem ser o outro?

Acredito na disciplina e na educação. Quando era pequena e apanhava uma bofetada da minha professora da primária, não contava em casa com medo de apanhar outra. Até porque conhecia o modo de pensar dos meus avós, “se apanhaste é porque alguma fizeste!”

O que encontrasse ao longo do meu percurso escolar, seria da minha responsabilidade. Se tirava boas notas, parabéns, é porque estudaste; se as notas eram más, a culpa era minha, que estava desatenta nas aulas e/ou não estudava o suficiente em casa.

Aprendemos a ser responsáveis quando nos responsabilizam pelos nossos feitos, a verdade é essa. Embora a vida não seja preta e branca, antes tenha várias tonalidades de cinzento, a verdade é que aprendemos a ser responsáveis nestas alturas.

Agora sou eu a mãe. E penso, como reagiria se o meu filho me chegasse a casa a dizer que tinha levado uma bofetada da professora? Teria de sopesar muito bem os prós e os contras, porque na verdade nem as criancinhas são anjinhos, nem os professores têm sempre cem por cento razão.

Mas sei que tenho de responsabilizar o meu filho pelos seus actos. De que outra forma ele se tornará num adulto responsável?

Será possível ser amiga do meu filho, e Mãe ao mesmo tempo? Sim, acho que sim. Desde que tenha consciência que amigos ele tem muitos, mas mãe só me tem a mim. E ele precisa da mãe em casa, porque amigos ele tem muitos lá fora.

Isto foi algo que tu nunca te consciencializaste. Sempre quiseste ser a amiga da tua filha, crendo que se tu aprendeste por bater com a cabeça na parede, ela fará igual. Não paraste cinco minutos para veres que ela não era igual a ti, que a ti foi ensinado o valor do trabalho e do sacrifício, e que tu não fizeste o mesmo por ela. Ela só conhece facilidades. Sacrifícios? Dificuldades? Porquê, se tu estás lá para resolver tudo com um beijo e um  “já passou” como se ela fosse um bebé de colo?

O que vai ser dela de hoje a amanhã, quando se descobrir sentada no chão com as duas mãos na cara? Não irá chorar muito mais? Quando descobrirem que tudo quanto fizeram ao longo dos ultimos anos foi um erro crasso, erro após erro após erro. Não faz mal se ela chorar hoje um bocadinho, faz mal é chorarem todos daqui a uns tempos e muito mais do que um bocadinho.

Sim, eu sei que sou inflexível e não perdoo facilmente. Nunca o fiz, não o ia fazer agora. É um defeito meu? É, eu sei que sim. Sei que sou rígida e inflexível em muitas situações, que não esqueço facilmente e que armazeno para memória futura. Mas também sei que tudo quanto previ relativamente a este assunto está-se a cumprir, e tu sabe-lo também. E acho que te aterroriza o facto de que o resto das minhas previsões se venham a cumprir também.

Não consigo ser falsa. Não consigo dizer alhos e bugalhos nas costas e depois pela frente desmanchar-me em sorrisos e amabilidades. Não possuo esta capacidade, feliz ou infelizmente. Quando não gosto, não gosto. Não consigo disfarçar. E tu sempre me criticaste essa característica, curiosamente quase ao mesmo tempo que a admiras. Em que ficamos? Admira-la ou teme-la?

Se tivesse de responder, assim de repente, diria que a temes. Temes que abra a boca quando tu estás tão ocupada a fingir.

Diz-me apenas uma coisa, o que é que achas que diz a respeito da personalidade de uma pessoa, quando um cão, meigo como o mel, que suportou maus tratos, que sempre se derreteu em amabilidades com tudo e todos, rosna e tentar morder pela primeira vez a alguém, alguém que nunca viu, e que esse alguém seja a mesma pessoa por quem todos sentimos um profundo desprezo? Só tu é que não vês o que ele é? Ou pela tua filha, finges que não vês? E a quem faz pior esse fingimento? Não é a mim, certamente, nem aos teus amigos, embora mal nos faça certamente. Mas o pior mesmo é a tua filha. A mesma a quem nunca preparaste para as dificuldades, a quem não podes ver de lágrimas nos olhos, de quem tu dizes, também tu a chorar, “Ninguém gosta mais da minha filha do que eu”. Acredito nisso. Sei que não há amor como o da mãe. Mas também acredito que nunca ninguém fez tanto mal à tua filha como tu.

A culpa não morre solteira nem é tua por exclusivo, pois ambas sabemos que existe um homem, que tinha o dever e a obrigação de zelar pela tua filha tanto quanto tu, e que não o fez. E isso apesar de viver convosco, de assistir dia após dia a muita coisa, e de se calar. Sim, a tua culpa é a dele: calaram-se e protegeram o que não tinha protecção possível. E transformaram o que podia ser uma rapariga saudável numa garota mimada e doentia nos seus afectos. Ela quer qualquer coisa, se não a obtiver, atira-se para o chão e chora. E qual é o resultado? Vão a correr fazer-lhe a vontadinha, coitadinha da menina que não pode ser contrariada. E admiram-se que ela tenha preferido os “Xutos e Pontapés” e a suposta festa de anos da suposta amiga em Évora ao aniversário do pai? E quando o pai, magoado no seu íntimo, recusa falar com ela ao telefone, a tua única atitude é encerrares-te no quarto a chorar baba e ranho porque ele está a ser injusto? E quando ela, pressentindo que enfiou o pé na argola, vem a correr por aí acima, gastando tempo e dinheiro, chega a casa e é recebida como a filha pródiga, a quem já só falta matar o bezerro, ou pelo menos a franga engordada, é recebida com ainda mais lágrimas e nada se passou? Vá lá vá lá que a menina não está aborrecida com o paizinho?

De quem é afinal a culpa de que ela não saiba fazer nada na vida dela? Que não saiba o que quer? E por favor, não me digam que sabe. A única coisa que ela sabe é manipular os outros para obter o que quer, porque de resto não faz ideia de como lutar, e então chantageia. Porque o que ela vos faz é chantagem. Chantagem emocional. E vocês permitem.

Isto não é uma relação normal, é uma relação de dependência, de simbiose. Não coexistem uns sem os outros, mas também não conseguem coabitar noarmalmente. É triste, se não for outra coisa.

Sempre tiveste a visão muito aguçada para os filhos dos outros, muito mesmo. E sabes? Tinhas razão em muitas das vezes em muito do que dizias. Do que me dizias. Reconheço-o. Não sou assim tão inflexível que não reconheça a razão quando com ela sou confrontada. Mas lamento tanto, tanto!, que não consigas ver o que tens em casa. Nunca conseguiste. E essa língua, tão viperina e rápida no que toca aos outros, aos filhos dos outros, fica misteriosamente muda no que à tua filha diz respeito. E ainda atacas quando alguém chama a criancinha à razão. Mesmo que esse alguém seja a família e só queira o bem dela, mesmo quando estão todos a dizer o mesmo e só tu achas que é assim. O mundo inteiro está errado? Só tu é que tens razão?

O que vai ser dela, quando tu fechares os olhos? Não viverás para sempre. Nem eu, nem ninguém. E depois de fecharmos os olhos, ela continuará a viver. Ela tem a vida toda à sua frente. Para trás tem uma vida mimada e desprovida de problemas. Uma vida de ouro, em que a única mancha foi provocada por ela e prontamente esquecida, prontamente apagada, porque a menina não pode chorar. Mas uma coisa te digo: mais vale ela chorar agora uns minutos, ou uns dias que seja, do que todos nós para o resto da vida.

Ela tem de aprender a lutar, e ela não o sabe; tem de aprender a defender-se, e não o sabe. Tu nunca lho insinaste, nunca lho incutiste. Crês sinceramente que ela aprenderá, como tu aprendeste? Era a essa dor que a devias tentar poupar, provocando-lhe dores menores. Como mostrares-lhe o inútil que ela persegue incessantamente. Como mostrares-lhe o que é realmente o amor. Pois até agora só mostraste o que é uma relação doentia e nada saudável.

Vocês vivem em simbiose com o que pensam que é, e não com o que realmente é. E quando não der para tapar mais o sol com a peneira, o que vão fazer? Sentar-se e chorar e lamentar pelo que podia ter sido?

Acordem enquanto ainda é tempo. Pois ainda não é tarde demais.

Ainda.

No Melhor Pano Cai a Nódoa



No momento em que escrevo isto, estás nas aulas. Tens um objectivo e esforças-te por cumpri-lo. Isso é bom, mas será suficiente?

Vives e respiras em função de outrém. E achas que pelo facto do teu coração bater ao som de outra pessoa que isso justifica tudo o que tens dito e feito. És nova, bonita mas inexperiente e fútil. Não sabes nada de coisa nenhuma e tens uma torneira atrás dos olhos, que abres e fechas a teu bel prazer. Não entendes, ou não queres entender, o mal que fazes, o mal que provocas. E estás a fazê-lo com a cumplicidade de quem devia ser a primeira a pôr os pés ao alto. E que, na crença de que está a fazer bem, está a fazer mais mal que nunca.

O que vai ser de ti futuramente? Quando o véu cor-de-rosa que te cobre os olhos cair e o vires como o que realmente é e não como tu julgas que eras? Que amigos ainda terás do teu lado nessa altura, quantos que ainda se importem?

És fraca de espírito, e força de vontade é palavra que desconheces. Usas os outros como bengala, e repudias quando não te interessa. Sabes responder torto a quem te quer bem, tens sempre um pontapé para dar a um dos teus pais, pronto e certeiro a disparar. Mas és incapaz de te opôr a esse inútil preguiçoso e vadio com quem te resolveste embeiçar.

Achas realmente que a beleza física é tudo? Não é. Então e o interior? A beleza é como a juventude, efémera. E quando se vai, o que é que sobra?

Sobramos nós, minha querida. O nosso interior. Aquilo que nos define enquanto pessoas. E o que é que o define a ele? Trabalha? Não, faz calos. Estuda? Não, dá trabalho. É boa pessoa, esforçada e perseverante? Não, é um chupista inútil a quem andas a encher os bolsos.

Ele goza com a tua cara, e tu permites. Ele indispõe-te contra a tua família e tu permites. Ele absorve a tua personalidade, enfraquece-te, e tu permites.

Viras-te contra te quer bem.

Quem és tu, afinal? Diz-me honestamente o que dessa relação tiras. E por favor não me digas que ele é bom rapaz, que é muito teu amigo, porque bem sabemos que ele prefere a companhia dos amigos à tua e só recorre a ti como última instância. É sexo? Terás tu noção que sexo sem sentimentos é desprovido de calor, e um mero escape físico? Consegues igual com vibrador e tens menos despesa.

Ontem ouvi alguém dizer que a tua personalidade só viria ao de cima no dia em que abrisses os olhos, mas o meu receio é que a tua personalidade não venha ao de cima nunca porque ele a absorveu. Não é inédito, é até bastante comum quando encontramos uma alma mais forte que a nossa e predisposta a fazê-lo.

Foi o caso dele.

Já sei que me vais odiar por não ser capaz de fingir, como os outros. Mas fingida é coisa que nunca fui e nunca tive a capacidade da dissimulação que outros têm e exibem perante ti. Paciência. Não beberei à vossa saúde, mas beberei de bom grado à tua libertação.

Quando ela ocorrer.

Se ela ocorrer.

Tornaste-te dissimulada e falsa. Manipuladora. Tu, que eras alegre, aberta e franca, és hoje o oposto.

Espero que tires satisfação do que tens. Porque de hoje a amanhã, não terás nada.

domingo, 5 de junho de 2011

Desilusão



O que leva uma miúda inteligente, culta e bonita a atracar-se a um bardajão inculto, cuja única característica que ressalta é ter meia pinta de cara?

Quando me disseram que o rapaz tinha tirado o nono ano, confesso que fiquei espantada. A criatura sabe ler?! Bem, é certo que para se tirar o nono ano não se precisa de saber ler e escrever, basta ter boas cábulas. E pelo menos nisso o rapazolas acertou, soube fazê-las.

O que vai ser da tua vida, K.? Achas mesmo que esse cretino inculto te faz feliz? Dá-te sexo. Não é a mesma coisa e não é tudo na  vida. O que sabes tu da vida, das dificuldades, do teres de te levantar sozinha? Tiveste sempre gente para te fazer tudo, tiveste sempre tudo de mão beijada! Fazes as asneiras, choras baba e ranho quando regressas e - coisa curiosa! - nem sequer ficas com a cara inchada depois de chorares! Será que só quando eu choro, é que fico com a cara num susto? Ou será que, no teu caso, não passa tudo de teatro? De manipulação?

Já não te conheço, já não sei quem és. E aquilo que fizeste é imperdoável, não pelo acto em si, mas pela falsidade que demonstraste ter. Uns viram, outros não quiseram ver, mas tu sabes o que fizeste e quão airosamente te saíste desta confusão. E de forma geral, foste tratada como uma filha pródiga de regresso.

Eu não mato o bezerro nem bebo à saúde do inútil bardajão. Amo-te muito, minha querida, mas por vezes o amar também passa por ser dura. Inflexível.

Já sei que não vais valorizar nada do que te estou a dizer, e que te estás positivamente nas tintas para o que te digo, desde que consigas manipulá-los a teu bel prazer. E assim vais continuar até ao dia em que eles já cá não estiverem, até que batas com a cabeça na parede e descubras a enormidade do erro que estás a cometer.

E espero sinceramente que nessa altura não seja tarde demais e que te apercebas do que fizeste e das consequências dos teus actos.

Porque até agora tens tido uma vida que é um mar de rosas. Mas todas as rosas têm os seus espinhos, e queira Deus que não te piques mais do que era devido se a tempo tens aberto os olhos.

Entristeceste-me.

Desiludiste-me.

Já não te conheço.

Não és quem eras.

E tudo porquê? Por uma relação onde o único benefício que tiras é o sexo? Onde está o companheirismo, a amizade, a partilha?

Espero que o sexo com ele seja mesmo bom, porque qualquer dia estás sozinha e a viver de recordações.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Dúvida Existencial


Tenho uma dúvida: o que é que fará uma pessoa inteligente, dinâmica e regra geral com três dedos de testa tomarem atitudes tão parvas que não lembra a ninguém?

O que leva uma rapariga - nova, é certo, com sangue na guelra, a querer ganhar a todo o custo, buscar apoio fora do círculo habitual apenas porque em 12 ouviu 3 nãos?

A pergunta pode ser tosca mas realmente é algo que me questiono. Será assim tão importante a vontade de vencer a todo o custo, que se esqueçam valores pessoais? Que se busque apoio em quem não tuge nem muge, apenas porque ouviu "não" e não está habituada e, ao que é pior, não sabe como há-de lidar com isso?

Fica a questão.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O Estado da Saúde - Parte II



E é claro que a xô doutora não apareceu. Vai ficar o resto da semana de baixa. Muito doente deve ser aquela dama. Nem sei como é que não está reformada por invalidez. Tão francamente inválida que nunca aparece para trabalhar...

MAS SERÁ QUE SÓ O ZÉ POVINHO É QUE É CONTROLADO AO SEGUNDO?! Eu se me atrasar cinco minutos levo uma descasca de dez minutos e um corte de 15, e aquela fulana?? Paga para trabalhar???

É fantástico ninguém se preocupa! Ninguém quer saber se os doentes daquela médica são ou não atendidos, porque até os próprios colegas estão fartos até à medula das constantes faltas!

E quando fazemos queixa ao Ministério da Saúde o que é que eles dizem?? “Esse Centro de Saúde não é o da sua área de residência!”

Ò génios, vamos lá a ver se a gente se entende:

1º - Se construíram um novo Centro de Saúde, o mínimo que podiam fazer era informar a população. Boa?? Ou é demasiado transcendental?? Se eu tivesse queda para adivinhar, o euromilhões já cá cantava ao tempo.

2º - Se estou a fazer queixa da falta de ética de uma médica, o mínimo que podiam fazer era cingirem-se ao caso. Não é preciso irem buscar o historial da senhora, até porque não me interessa a idade em que ela largou a chucha!

3º - Quando até os colegas da classe médica se queixam da senhora, se calhar é porque de profissional ela não tem nada!!! (Digo eu; mas já deu para ver que eu digo uma série de coisas).

4º - Com um registo de faltas e baixas médicas tão grande, não era melhor reformar a senhora por invalidez?! Às tantas está morta e ainda não deu conta!

Resumindo: continuo lixada e sem consulta médica. Ficou supostamente marcada para a próxima semana, mas nunca confiando.