terça-feira, 17 de maio de 2011

A Máscara



Tinha um cabelo louro-acinzentado, olhos cristalinos e sorriso meigo. Falava sempre baixinho, como se tivesse medo de incomodar alguém com o som da sua voz. Tudo nela era comedido, pensado, terno. Por vezes afivelava-se uma expressão pensativa, que enobrecia as suas feições delicadas. Outras, chorava às escondidas e aparecia de olhos vermelhos.

Sussurros, murmúrios nas sombras. Seriam esses que a fariam chorar? Quem o podia dizer? E depois os sussurros subiram de intensidade e já eram falados a meia voz. E quanto mais os sussurros eram repetidos, mais inchados e vermelhos ficavam os olhos cristalinos.

E um dia já não eram sussurrados. Eram ditos, em voz alta, pela frente. Era questionada à luz do dia sobre as palavras pesadas que proferira na escuridão. E o anjo era afinal dissimulado, falso, mentiroso. Um autêntico anjo caído. E subitamente os olhos eram menos cristalinos, o sorriso era menos terno, tornava-se calculista, até as feições que antes pareciam meigas se tornavam frias, marmóreas.

Falsidade, aleive, mentira.

Podem aparecer debaixo de muitas máscaras. Nenhuma é tão perigosa como a máscara da virtude.

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