quinta-feira, 19 de maio de 2011

Movimentar a Economia



Hoje passei grande parte do dia “a encher chouriços”. Que é como quem diz, a pôr em dia o trabalho secante que vai ficando para trás porque é uma boa cura para as insónias.

Tive tempo para pensar em tudo, enquanto entrava em piloto automático e resolvia os pendentes. Reflecti na chatice que foi para Portugal a morte do rei D. Sebastião, no difícil que devia ser escrever uma carta no Egipto antigo, na morte da bezerra, questionei-me (talvez pela milionésima vez) porque motivo Deus castigou a mulher com o período, os partos e os homens, que têm o descaramento de nascer sem manual de instruções.

Depois destes pensamentos profundos, comecei a divagar.

Um amigo meu disse hoje que, ao telefonar-mos para uma linha de apoio, estávamos a movimentar a economia. Dávamos trabalho ao moçoilo (ou moçoila) do call centre, punhamos uma questão digna de atazanar a supervisão e a supervisão da supervisão, e eram pelo menos mais três pessoas que nao iam para o desemprego – e tudo com uma só chamada.

Por profundo que este pensamento seja, tenho outros. Não tenho tempo para ir às compras, então, faço a encomenda pela net. Alguém escolhe e ensaca as coisas, alguém mas vem trazer a casa e tira das caixas de segurança, e caso não haja algum produto telefonam a perguntar se querem que substituamos por outros e até dão alternativas (que fofos). Dei ou não dei emprego a alguém? E não me chateei com bichas no supermercado ou a empurrar o carrinho de lado para Pilatos.

Movimentei ou não a Economia?

Apetece-me uma pizza. Pego no telefone e alguém me atende. Faço a encomenda e passado algum tempo tenho a pizza em casa. Alguém teve de a cozinhar e alguém ma veio trazer a casa. Dei emprego a alguém.

Movimentei ou não a Economia?

Vou ao estádio assistir a um jogo de futebol, ver o meu grande Benfica. Para entrar, tenho de pagar bilhete, a menos que consiga que algum importantão do futebol me adopte como afilhada (se alguém estiver interessado, o lugar está vago!!!!) Compro um cachorro quente (regra geral está morno) e um cachecol. Em seguida, tenho 90 minutos de catarse autêntica, onde exalo os maus fígados da semana por todos os poros, purificando o organismo. Chamo tudo ao árbitro menos pai; chego inclusivamente a insinuar que a mãe do senhor tem uma profissão isenta de impostos (para usar as palavras do imortal Ricardo Araújo Pereira); se a equipa joga bem, ah ganda malta, assim é que é, força nisso, só mais um. Se a equipa joga mal, ah seus coxos, a minha avó de andarilho corria mais. Com estes e outros mimos, consigo exteriorizar a frustração de uma semana de trabalho, saio do estádio limpa, toda contente se a equipa ganhou, danada da vida se perdeu, e em qualquer um dos casos o árbitro continua a ter a culpa.

Movimentei ou não a Economia?

Bem, aqui talvez não tanto assim, mas não faz mal, porque sei que fui económica na mesma ao não me deitar no divã de um psicanalista qualquer que acha que a associação de ideias é uma coisa excelente, e uma pessoa anda 20 anos a deitar-se no sofá e a pagar um balúrdio por uma soneca.

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