Ontem choveu. Pingos grossos, pesados, que magoavam quando caíam. Na rua, transeuntes apressados corriam para se abrigar. De onde viera aquela chuva tão intensa, tão de repente, como se cobriu o céu de relâmpagos quando ainda há momentos estava tão límpido?
Fico a ver chover, olhando abstractamente pela janela. O marido chega, praguejando contra a chuva repentina que o encharcou. Nem a propósito, a Gal Costa começa a cantar Chuva de Prata. Ele vem, abraça-me e encosta o queixo à minha cabeça.
A chuva é tanta e tão intensa que levanta fumo. As mãos dele envolvem-me, esfregando-me os braços num gesto que tem tanto de distraído como de ternurento.
E com um beijo a cheirar a chuva, ouço-o dizer baixinho:
- Cheguei, querida.
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