O meu coração está de luto. A minha querida avó, tão especial de tantas formas, a "avó velhinha" dos meus meninos, um dos alicerces da minha vida, deixou-me na sexta-feira com a bonita idade de 89 anos.
Faria 90 este mês, no dia 24.
Como vou continuar sem ti, avó? A saudade aperta-me o coração. Tu eras tão importante para mim, tu adoravas os teus meninos... Lembras-te quando eu ia passar férias contigo e ficava mais de uma semana? Ficavas toda contente e dizias, "ao menos não é visita de médico!" e só lamentavas que as férias passassem a correr.
Quem não gostava de ti? Com a tua calma, a tua simpatia, a tua maneira de ser e estar... O teu vagar... lembras-te, avó, das nossas partidas de dominó? Lembras-te de quando me tentaste ensinar croché? E fada do lar? Fraca aluna fui, e agora levaste os segredos contigo.
Lembras-te quando íamos à avenida da igreja, e tu ficavas encantada? Quando fazíamos piqueniques na Arrábida, belas sardinhadas que faziam o teu encanto, ou quando, em pleno Inverno, e já em minha casa, fazíamos uns assadinhos no forno ou um prato mais exótico e tu dizias: "Onde é que foste descobrir estas coisas?" e comias com prazer.
Lembras-te das horas que passámos na cozinha? A fazer bolos, bolachas, doces de todos os géneros? Quem me ensinou a bater um bolo com a colher de pau, avó? Quem me ensinou a meter a mão na massa?
Quando a minha vida mudou, quando de vida de solteira passei a fazer vida de casada, tiveste sempre um lugar na minha casa e agora eras tu que vinhas "passar férias" comigo. Lembras-te, avó? Ficavas toda encantada. Tinhas sempre lugar aqui, nunca te sentias só ou mal aqui.
E dos passeios a Fátima, que tu adoravas? Podia doer-te tudo, mas mal chegavas a Fátima, dizias sempre: "Ou é da companhia ou é milagre!", porque subias e descias tudo a correr, nada te doía.
Quando fiquei grávida do nosso menino, toda tu irradiavas alegria. E que o teu menino fosse tão parecido com aquele outro menino que tu acarinhaste e criaste... Oh, alegria dos céus! Eram os teus meninos. Lembras-te, avó? "Dá-me, dá-me, dá-me, dá-me, dá-me!" Parecia que nunca mais pegavas no teu bebé ao colo, chamavas-lhe "Joãozinho da avó" e havia uma luz especial no teu olhar.
Como é que vou dizer ao nosso menino que a avó velhinha já cá não está? Como é que vou contar-lhe que já foste para o céu? Ele, que ainda fala tanto em ti?
Fazes-me tanta falta, minha querida. Eu já sabia que tu serias a primeira a dizer que não quererias viver assim, e na verdade Deus levou-te antes que o sofrimento começasse. Tu dizias-me tantas vezes "Eu não sei estar parada" e isso era verdade.
Tu amaste e foste amada. Recordaste e és recordada com eterna saudade. Não só por mim, como bem sabes. Tenho tantas, tantas saudades tuas... Quem me dera poder de alguma forma rever-te e podermos voltar aos passeios na avenida, aos piqueniques, às horas na cozinha...
Descansa em paz, avó. Tiveste uma vida cheia e preenchida. Agora estás no merecido descanso. Só não sei ainda como viver sem ti a meu lado.
Adoro-te, avó.
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