Já passaram duas semanas desde que foste embora. Os restos do jantar vão para o lixo, mas ainda tenho o hábito de pensar "tenho de lhos dar". E depois recordo-me que já cá não estás, e que o que tenho na mão tem como destino o lixo. Costumava dizer na brincadeira que eras a minha "Brigada de Limpeza Canina", pois quando caía alguma coisa aí ias tu ver se era saborosa. Lembras-te quando deixei as espetadas temperadas e tu rapinaste uma? Lembras-te do pacote da mortandela que comeste de empreitada? E o pedaço de torresmo, quase tão grande como tu, que arrastaste para a cozinha, esperando que eu não desse conta?
Ou daquela vez que te atiraste àquele cretino imbecil apenas porque pressentiste que eu o detestava? Nunca pensei que conseguisses reagir assim aos meus sentimentos, estávamos em sintonia.
Foste sempre incapaz de odiar. Eras meigo mesmo quando não conhecias. Crianças, adultos ou idosos, todos conheciam o teu lado meigo. Foi aquela a única vez que te vi zangado.
Sei que estás melhor agora, que estás permanentemente acompanhado, que já não te sentes só, mas continua a doer a ausência, a sensação que havia algo que podia ter feito e não fiz, algo que estava fora do meu alcance.
Continuam a perguntar por ti, continuo a encolher-me na cama, como se ainda dormisses a meus pés. Quando entro em casa ainda espero encontrar-te, vejo outro igual a ti na rua e penso em ti. Fazes-me tanta falta, a tua companhia silenciosa, como só tu sabias fazer.
Sei que estás melhor agora e só isso é que me permite combater a saudade que sinto.
Ainda bem que estás melhor agora. Acompanhado o dia todo, com crianças para brincar... Sei que estás melhor, meu querido R.
(Imagem tirada do Google)
1 comentários:
O conforto de o saberes melhor agora é a arma para reconfortar o coração.
Mas se te entendo e como te entendo! Beijos
Enviar um comentário