terça-feira, 13 de março de 2012

Diminutivos



O meu nome não é grande, mas conseguiram encurtá-lo ainda mais. Durante anos, só uma pessoa me chamava Katy, e era a minha avó. Nunca, que eu me lembre, me tratou pelo meu nome completo até eu perfazer 22 anos – e só foi assim nessa altura porque lhe apresentei o meu namorado, futuro marido. E mesmo aí – ainda hoje penso assim – foi descuido. Porque só depois do meu filho nascer é que deixei definitivamente de ser Katy para ela, e isto porque tinha um bebé para mimar. E oh se ela o queria mimar! (Mimar, abraçar, beijar, e afins).

Coisa curiosa, nunca me aborreceu – nem na idade estúpida da adolescência – que ela me tratasse pelo meu diminutivo. Ela. Só ela. Nunca o resto da família.

O meu filho tem vários nomes carinhosos, e responde por vários. Coisa curiosa, o nome dele também é curto mas consegui prolongá-lo. No meu caso, encurtaram-no; no caso dele, alongaram-no.

Amamos uma pessoa com toda a nossa alma, mas raramente a tratamos pelo nome. Pelo menos, o nome que vem no bilhete de identidade ou cartão único ou lá o que lhe queiram chamar. Arranjamos nomes curiosos, que prolongam ou diminuem o original, mas que não é aquele que nos foi atribuído.

Com uma excepção. Ter dois nomes próprios é útil e eu sempre achei que combinava com um par de berros. Sejamos realistas: se houver uma forma de uma criança fazer disparates, o iconoclasta pequeno ser descobre-o. E faz. Cabe aos pais/avós/adulto responsável pelo piolhito a correcção. Nessa altura, não só se usa o nome inteiro, como se usa o segundo nome também.

O curioso é que também resulta com adultos. Por exemplo, se eu pedir qualquer coisa ao meu marido, e começar com: “amor”, “fofinho” ou outro nome igualmente carinhoso, estamos bem. Quando me salta a tampa, uso os dois nomes próprios. Não são úteis? Pai e filho percebem logo que o caldo entornou.

Os meus pais só me tratavam pelos dois nomes quando eu já tinha feito alguma das boas (a minha outra avó é a excepção. Conhecia-me tão bem que ainda antes de eu fazer os disparates já ela os andava a prever e vinham de lá os dois nomes de empreitada). Com o meu filho, é a mesma coisa.

Só a minha avó é que me tratava pelo diminutivo sempre, fosse em que ocasião fosse (mesmo quando fazia asneiras, mas nesse caso o tom mudava radicalmente). E o curioso é que fazia muito menos asneiras com ela do que com os pais ou os outros avós. Porque seria?

Seja como for, com ou sem asneiras, uma coisa é certa: os diminutivos (ou aumentativos dependendo do caso) são importantes e dessa forma manifestamos o carinho por alguém; o segundo nome próprio combina com um par de berros e manifesta exaspero na melhor das hipóteses.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Limões



Há coisas que me fazem uma confusão danada.
Mas quando vem um economista dizer para as notícias “Portugal é um barco que está a meter água e a consciência dos portugueses devia de ser a de quem perdeu a guerra”, como foi o caso do Sr/Dr/Eng/whatever João Salgueiro, Economista, fico a pensar: o que é que eu devo e a quem?
Vejamos: paguei as minhas contas (água, luz, etc...) e até o VISA, ao qual tive de recorrer em altura de doença. Paguei a renda, paguei a conta da farmácia, paguei todas as minhas despesas e inclusive estou a trabalhar para pagar as próximas facturas que me hão-de aparecer. Quanto muito, devo à minha vizinha o limão que lhe fui pedir para fazer o arrozinho doce a semana passada (lembrete a mim própria: comprar um kg de limões e dar à vizinha, que a inflacção tá pela hora da morte).
Bem vistas as coisas, devo um limão e nem sequer é ao governo. Então porque é que dizem que cada português deve não sei quantos mil euros a não sei quem? Dei-me ao trabalho – e à despesa! – de ir às Finanças pedir uma declaração em como não devo ponta às Finanças, e o meu filho tem dois anos, a caminho dos três, e os seus pais matam-se a trabalhar para que não lhe falte nada. Não usa VISAS, não sai à noite e o seu vício é a chucha, da qual não prescinde para dormir. Então se nenhum de nós deve nada a ninguém, como é possível cada português dever não sei quanto a não sei quem?

(Não esquecer: limões).
Voltando ao barco e à guerra, assim de repente a última guerra que me lembro de ter visto o nome de Portugal envolvido foi na guerra colonial – e como ainda não era nascida, acredito no que me contame no que vem nos livros – e a seguir à guerra, ou antes ou durante, que isto para datas sou uma nódoa, os cofres do país estavam ricos. Não é como agora, que são ricos em teias de aranhas e papéis de dívidas, mas ricos em ouro. E no entanto, vem um economista – que pela provecta idade imagino ser uma pessoa de renome no seu meio – dizer que estamos a meter água e que a nossa atitude deveria ser a de quem perdeu a guerra.
(Limões; já anotaste??)

Vamos por partes. Primeiro, não meto água em lado nenhum porque a minha canalização está em perfeitas condições, obrigado (é que nem sequer consigo tomar um raio de um banho de imersão porque ando sempre a correr), portanto imagino que esteja a falar por alegorias, e nesse caso tenho a informá-lo que sou muito literal e que nem sequer a minha casa devo ao banco porque é alugada, logo, devo ser muito estúpida mas não percebi. Queira clarificar por favor.
Segundo, não posso ter perdido a guerra porque nem sequer era nascida na altura da guerra colonial – recordo, a última guerra na qual nos envolvemos. Formalmente, pelo menos. Mais uma alegoria? O cavalheiro devia ser filósofo, arrisca-se a fazer sombra a Platão com tantas alegorias.
Terceiro, se Portugal é um barco prestes a afundar, não devíamos cuidar primeiro que tudo do rombo? É que atirar água fora com baldes não chega, é preciso vedar o buraco senão é estar a trabalhar para aquecer, o nível da água não baixa nunca.
 
 
Quarto, e muito importante, se as Finanças declaram (com carimbo e tudo!) que não lhes devo nada, porque motivo vêm dizer que a dívida dos portugueses está insustentável? E mais importante que tudo, porque é que não passam a factura a quem fez estes estragos e põem ponto final de uma vez por todas a esses chupistas que andam a lamber o fundo ao tacho, na esperança que esteja banhado a ouro? É que o ouro já foi, e toca sempre aos mesmos o pagamento da factura. Acabem com essas fundações, que ninguém percebe bem para que servem ou o que são, acabem com a segurança privada dos ex-PR, porque na maioria até era um favor que nos faziam se alguém pusesse fim à sua existência, mas quem é que iria gastar o seu precioso tempo – e uma bala! – com eles!

(Já compraste os limões?)
 
 
Sinceramente, de alegorias entendo pouco mas também não quero destronar o Platão. O que quero mesmo é agarrar nesta corja e lançar ao mar com uma âncora presa aos pés.
Ah, e restaurar a justiça em Portugal. Porque pelos vistos o grave não é matar, é roubar o povo e não conseguir fugir.
(Ai, não me posso esquecer dos limões!!)

terça-feira, 6 de março de 2012

Então e as Pessoas?

Dizia o nosso ex-Presidente da República hoje no TVI 24 e sabe Deus onde mais onde. Então e as pessoas? Aumentos brutais na saúde, aumentos brutais nos transportes, aumentos brutais no custo de vida, aumentos brutais de tudo – menos dos ordenados, que estagnaram.

“ O mais importante são as pessoas, não o dinheiro!”, insurgia-se o senhor. O que este cavalheiro se esqueceu de referir foi que não fossem as 32 viagens ao mundo que fez enquanto PR, se calhar tínhamos um pouco mais de dinheiro, porque a bem dizer Salazar deixou o país rico. Inculto, sim. Mas rico. Ou então levava um bocadinho menos de tempo a delapidar o erário publico, uma vez que embora não tenha sido o único chupista, ajudou e com um valente pontapé. AGORA é que se lembra das pessoas? Com os idosos a morrerem por não terem dinheiro para os medicamentos/médicos/INEM/whatever?

É óbvio que não se pode culpar o cavalheiro pelo desemprego actual. Não vamos culpar o homem de tudo! Mas podemos e devemos apontar o dedo aos verdadeiros culpados, que estão/estiveram no poleiro e que apesar de serem apanhados em tramóias do arco da velha, conseguem sempre escapar-se ou com pena suspensa ou completamente livres “por uma especificidade técnica que anula o julgamento”.

Mas se alguém roubar um pão, vai preso.

Que se lixem as pessoas. Ao menos tenham a decência de parar de fingir que se importam com quem esmagam debaixo do pé, porque verdadeiramente vocês estão-se todos nas tintas, bebem todos da mesma gamela dourada e não passam, todos!, desde o ex-PR até ao actual PR de uns gigantescos aldrabões, ladrões e outros que tais acabados em “ões”.