O meu nome não é grande, mas conseguiram encurtá-lo ainda mais. Durante anos, só uma pessoa me chamava Katy, e era a minha avó. Nunca, que eu me lembre, me tratou pelo meu nome completo até eu perfazer 22 anos – e só foi assim nessa altura porque lhe apresentei o meu namorado, futuro marido. E mesmo aí – ainda hoje penso assim – foi descuido. Porque só depois do meu filho nascer é que deixei definitivamente de ser Katy para ela, e isto porque tinha um bebé para mimar. E oh se ela o queria mimar! (Mimar, abraçar, beijar, e afins).
Coisa curiosa, nunca me aborreceu – nem na idade estúpida da adolescência – que ela me tratasse pelo meu diminutivo. Ela. Só ela. Nunca o resto da família.
O meu filho tem vários nomes carinhosos, e responde por vários. Coisa curiosa, o nome dele também é curto mas consegui prolongá-lo. No meu caso, encurtaram-no; no caso dele, alongaram-no.
Amamos uma pessoa com toda a nossa alma, mas raramente a tratamos pelo nome. Pelo menos, o nome que vem no bilhete de identidade ou cartão único ou lá o que lhe queiram chamar. Arranjamos nomes curiosos, que prolongam ou diminuem o original, mas que não é aquele que nos foi atribuído.
Com uma excepção. Ter dois nomes próprios é útil e eu sempre achei que combinava com um par de berros. Sejamos realistas: se houver uma forma de uma criança fazer disparates, o iconoclasta pequeno ser descobre-o. E faz. Cabe aos pais/avós/adulto responsável pelo piolhito a correcção. Nessa altura, não só se usa o nome inteiro, como se usa o segundo nome também.
O curioso é que também resulta com adultos. Por exemplo, se eu pedir qualquer coisa ao meu marido, e começar com: “amor”, “fofinho” ou outro nome igualmente carinhoso, estamos bem. Quando me salta a tampa, uso os dois nomes próprios. Não são úteis? Pai e filho percebem logo que o caldo entornou.
Os meus pais só me tratavam pelos dois nomes quando eu já tinha feito alguma das boas (a minha outra avó é a excepção. Conhecia-me tão bem que ainda antes de eu fazer os disparates já ela os andava a prever e vinham de lá os dois nomes de empreitada). Com o meu filho, é a mesma coisa.
Só a minha avó é que me tratava pelo diminutivo sempre, fosse em que ocasião fosse (mesmo quando fazia asneiras, mas nesse caso o tom mudava radicalmente). E o curioso é que fazia muito menos asneiras com ela do que com os pais ou os outros avós. Porque seria?
Seja como for, com ou sem asneiras, uma coisa é certa: os diminutivos (ou aumentativos dependendo do caso) são importantes e dessa forma manifestamos o carinho por alguém; o segundo nome próprio combina com um par de berros e manifesta exaspero na melhor das hipóteses.